quinta-feira, 15 de abril de 2010

SNEVUN OÃS...


Nuvens são seres vivos. Elas têm começo, meio e fim. Elas se movimentam e se transformam. Interagem com o espaço. Copulam com as aves. Digladiam-se com o sol e a lua. Inebriam poetas. Das letras e das músicas. À distância são opulentas. Algumas, até, temerárias. Perto, são ingênuas, delicadas quase inexistem. Nuvens é a humanidade do céu. Sim. Eu vejo rostos nas nuvens. Vejo monstros. E embarcações. Vidas abstratas. Eu as observo horas a fio. Quis outro dia perguntar para uma delas: de onde vinha e para onde ia, e não soube ela me responder. Acho que sequer me ouviu. Eu sempre acreditei que a vida na Terra fosse uma viagem de trem. Até que um belo dia muito triste em minha vida eu, sentado à calçada, em frente de casa, enquanto me lembrava do esquife de minha mãe baixar à sepultura levantei a cabeça tentando encontrar Deus e só encontrei as nuvens. Que, embora, gentis e cheias de vida, não ofuscavam o brilho sufocante do sol. Dia desses me veio à lembrança um final de tarde quando, acompanhado de uma mulher, eu observava da amurada de um castelo o crepúsculo... Passado. Não em minha vida. Porque o passado em minha vida é presente. Passado é o que não se lembra, embora se saiba ter existido. É uma das razões pelas quais eu admiro as nuvens. Elas sempre passam e sempre estão presentes. Nuvens se cruzam. Nuvens se juntam. Enquanto eu puder enxergar alguma coisa estarei com elas à distância que a vida me permite. Nuvens é o passe de mágica do céu. Mudam a cada piscar de olhos. Vou além da magia. Não preciso de um tempo para voar. Mas apenas observar as nuvens. E estou por toda parte, das mais diversas formas. Livre. Sempre. Como as nuvens.
Trecho do romance “Bem-Vindo ao Clube” de J. Costa Jr. em fase de redação.