sábado, 15 de novembro de 2008

O SR. OSPRÓS e O SR. OSCONTRAS


Eram dois irmãos, geniais e rivais, com pensamentos, atitudes e convicções completamente opostos. E é tudo o que sei a respeito de ambos.

Gosto de brincar com as palavras. Se comparado ao que já fui (conforme a cigana), melhorei não resta a menor dúvida. Ao menos trapaceio com as palavras. Veja, para enxergarmos as coisas e os acontecimentos sob todos os ângulos, basta elevarmos a consciência até o topo da montanha que é nossas vidas. Então, será menos difícil aceitar que a tristeza de um é a felicidade de outro como normalmente acontecia, suponho, com o Sr. Osprós e seu mui digno irmão o Sr. Oscontras. Um exemplo clássico para ilustrar a dissertativa: Quem mais, além da sogra rabugenta, ficaria satisfeito com o desencarne do cidadão? Eis a lista: o médico que assina o atestado de óbito, o agente funerário, a empresa que construiu e vendeu o caixão, onde repousarão os ossos do extinto, a floricultura, e se o cara for bom de bolso, o alfaiate, o maquiador, e o cabeleireiro, os credores que já desistiram de cobrá-lo...

Outro exemplo menos mórbido: seu espelho quebrou; sete anos de azar. Pra você. Pro vidraceiro, 50 paus no caixa.

Os buracos nas ruas e avenidas fazem o prefeito perder a eleição. Mas ajuda a manter o emprego de dezenas de operários.

Bancários em greve? Isto não é problema, é solução, porque aumenta o movimento das casas lotéricas e seus proprietários, que vivem reclamando da vida já não terão do que reclamar, ao menos por algumas semanas.

Imagine se ninguém ficasse doente. Seria ótimo, não ? Vivo pedindo isso a Deus. Mas quando peço, não me lembro dos médicos, enfermeiros, farmacêuticos. Porque a minha, a nossa doença, Deus nos livre, é a saúde do bolso deles.

Marca-se um gol. Vibra o estádio lotado de torcedores. Só a metade. A outra chora, lamenta, enrola as bandeiras, e enfia a corneta... opa!

Lao Tsé, sempre ele, disse, bem antes de Cristo, que, "forte é quem vence suas más inclinações". Que não saibam disso os policiais, os advogados, os magistrados, os carcereiros, e até os psicólogos e psquiatras.

Não por acaso nós temos dois olhos, duas narinas, dois ouvidos, duas mãos e dois pés, sobre os quais nos apoiamos pra caminharmos neste mundo, embora, muitos - dentre os quais, este autor - gostaria mesmo era de ter asas para voar bem longe e quem sabe não voltar.

Ah, ia me esquecendo. Temos ainda o que nos diferencia das demais espécies animais: a mente, para pensar de maneira continuada. O que nem sempre significa grande coisa.

O que quero dizer, sabe, eu me enrolo com as palavras, vez em quando, é que embora eu e você sejamos animais, não precisamos plantar bananeira feito macaco para termos uma visão, digamos, 360 graus da vida.

Apesar das intempéries, as nuvens se dissipam e o sol volta a brilhar. Também sou poeta. Não riam, por favor.

Como diziam os irmãos Osprós e Oscontras, nisso pelo menos eles concordavam, no teatro da vida não há vencedores e vencidos, há peregrinos aprendizes a caminhar por uma infinita estrada à qual o Sujeito, o dono do pedaço lá em cima, pôs o nome de eternidade.

O equilíbrio, a harmonia, a evolução constante é a marca deste mundo. E quando pudermos aceitar isto, sem medo, sem preconceito, sem egoísmo, não teremos dificuldade em praticarmos a fraternidade, nos reconheceremos iguais uns aos outros, seremos livres. E felizes.

Seguirei o conselho dos irmãos Osprós e Oscontras, e direi: Adeus Schopenhauer, você está agora há sete palmos da minha consciência.

Nenhum comentário: