Eu poderia começar diferente É Natal, o momento é propício Falar de esperança e certeza De alegria e sonhos Mas o que isso tem a ver? O que tem a ver comigo? Se ele me persegue Onde quer que eu vá Se ao amanhecer Eu caminho Pela estrada deserta Ele está ao meu lado É o abismo Que aos poucos se agiganta Dentro de mim como Monstro insaciável É o escuro dos meus olhos A sufocar a noite O gelo do meu coração Medo Sem nome, sem rosto Sem motivo Acompanhado de sua dama A solidão Ele me faz ver Tudo o que não tenho Tudo o que não sou E aponta-me o caminho E mostra-me o tempo Dentro de um arco Iris Por onde me convenceu um dia Eu pudesse seguir Medo Ancião de barbas e cabelos longos Coberto de andrajos Feridas expostas Pés descalços Olhar compenetrado Um vulto na janela do quarto A me olhar quando eu era criança Imagem no espelho Que eu encontrava na juventude Todas as manhãs, todas as noites Medo Sem rosto, sem nome, sem motivo A me seduzir, dia após dia Noite adentro Talvez me ame E não viva sem mim