segunda-feira, 22 de junho de 2009

CARTA AOS MISSIONÁRIOS


A única maneira
De se eliminar
A possibilidade de vingança
É aniquilar o inimigo
Não se estende a mão
Para aquele que
Um dia
Pode colocar tua face
De encontro ao chão
E se tudo é energia
O ódio é apenas
Uma face dela
Quando há brilho
Nos olhos
E sangue nas veias
Alguma coisa há
Dentro do coração
Que faz a mente
Voar longe
E o espírito
Bem alto
Do que você é feito?
De quê barro viestes?
Cerre os punhos
Desfira o golpe
É preciso derrubar
Os muros e os corpos
E libertar os espíritos
Esqueça os que prometem
A cura esperada
A terra prometida
Ignore os que sabem
Escrever com palavras
Eles desconhecem a dor
Não sabem qual o cheiro
Do ferimento que não fecha
Se pensas que aqui
Continuarás para sempre
Desistas
Isto não lhe pertence
É apenas uma roupa
Carcomida
E usada
E o que está à sua volta
Apenas ilusão
Que ao último olhar
Desfaz-se
Na poeira do tempo
Que é o nada

sábado, 13 de junho de 2009

MEA CULPA

Quem me conhece amiúde, quem lê os meus textos, imagina que sou destemido, ousado e, por vezes, senão sempre, arrogante. Não conhecem metade da reza. Sou tímido, inseguro e tenho medo terrível de tudo a minha volta. Cada olhar que me encontra pode ser um inimigo a me espreitar. Quando mais jovem, porque jovem sempre sou, porque assim é meu espírito, eu exorcizava meus demônios e espantava meus medos nos braços da noite, no acalento da brisa da manhã, borrifado de perfumes que não eram os meus, e sorvido por goles de delírio e prazer que não me pertenciam. Mas o trem da vida continua a seguir o seu destino e se a gente não pula fora sempre chega à próxima estação. Agora que escrevo estas linhas, estou linkado no youtube ouvindo (e não vendo) "Loves come quickly" do PSB. Noites e mais noites ao embalo desta música. E de outras. Ali, naquele mármore de indiferença, desprezo e revolta forjou-se o escritor, que escreve linhas como estas, na busca insana por espantar para longe de si todos os seus medos. E a dúvida cruel persiste. A um passo de distância da liberdade. Um movimento. E de repente tudo se desfaz, se desmancha e a vida se deforma e ganha contornos de Munch. E olhar de Cortazar. Faz frio e a noite chega. O medo é como chama ardente que envolve, domina e consome. Os sinos não irão tocar esta noite. Talvez o façam pela manhã. O copo se quebrou e o líquido é precioso demais para ser sorvido de maneira tão vulgar. Por isso talvez eu adormeça esta noite. Talvez. As roupas estão sobre a cama, a toalha no chão, o gato no telhado, a lauda, em branco, no carro da máquina de escrever, esperando... esperando a sintonia, o momento em que tudo conspira a favor, o momento em que se deflagra a revolta, que se faz a rebelião. Alguém me convenceu que bastariam palavras para a minha vingança. Há de pagar por isso.